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LUANA BANDEIRA: “a arte traduz o que a gente tem sentido nesses dias, alivia um pouco do peso”

Desenhista é a primeira convidada da série “ARTE RESISTE” e bateu um papo com o Mixtape 90 sobre cultura, resistência e o processo criativo na quarentena



Luana Bandeira, desenhista e ilustradora

Não é novidade para ninguém que a região Nordeste é berço de artistas geniais e de grandes ícones da cultura brasileira, não é? O que pensar então de uma desenhista e ilustradora baiana que passou a infância no sertão de Alagoas, é fã de Pearl Jam e Novos Baianos na mesma proporção, corintiana roxa, apaixonada por comida regional e que consegue levar a Abaporu (Tarsila do Amaral, 1928) para o universo psicodélico de “Yellow Submarine” dos Beatles?


Nascida em Salvador (BA), Luana Bandeira se mudou ainda bebê para Delmiro Gouveia (AL), onde viveu até os 11 anos e se firmou mais tarde na capital alagoana, Maceió. Com traços e ideias marcantes, fã do impressionismo e flerte com o realismo americano, Luana guarda uma rica bagagem cultural das muitas viagens que fez pelo mundo e, como boa artista que é, tem a capacidade da autorreflexão, de observar pessoas e lugares, de enxergar o mundo e transformar tudo em arte.


“Nordestina até a raiz mais profunda da árvore genealógica”, essa é a forma com que Luana enche o peito de orgulho para falar quando perguntada sobre suas origens e, em seus desenhos, podemos observar que o amor pelo Nordeste vai muito além de um bom prato de macaxeira com queijo coalho.


Das versões luanescas para obras de Van Gogh e de Tarsila do Amaral, passeando pelo rock e a cultura pop, chegando na série de desenhos de viagens e no diário de quarentena, Luana Bandeira é uma verdadeira usina criativa. Tal processo rendeu a coleção “Um Desenho Por Dia”, em que a artista se propôs a postar em suas redes sociais uma ilustração do próprio cotidiano para cada um dos 365 dias do ano de 2014.


Para abrir a série “ARTE RESISTE”, a desenhista e ilustradora bateu um papo incrível com o Mixtape 90 em que fala da carreira, sobre o futuro do setor cultural, política, da arte como resistência e de como tem sido produzir e manter a mente saudável durante o período da quarentena.


MIXTAPE: Conhecemos o teu trabalho através das redes sociais e da lojinha do Festival Carambola, que por sinal são obras maravilhosas que trazem muito conforto para esses dias. Conta um pouco sobre a arte em sua vida e sobre sua área de atuação.

LUANA: Na minha família sempre teve arte. Minha avó é artesã, minha mãe e minha tia tocam piano, um tio é desenhista, outros tios gostam de violão, percussão... A diversão das férias era desenhar com minha avó, pintar o “Almanação” da Turma da Mônica inteiro, depois comprar outro pra pintar de novo...

No curso de Arquitetura, as técnicas se ampliaram, o contato com tanta gente criativa, com a história da arte, tudo se junta nas minhas referências e memórias. Abandonei a arquitetura, mas a arte é minha terapia, minha diversão, a forma com a qual me comunico melhor.

Abaporu em Pepperland (Luana Bandeira, 2020)

MIXTAPE: Nos desenhos há referência a viagens, música, cultura pop, comportamento. Como está sendo o processo de criação no período de quarentena?

LUANA: Gosto de observar o cotidiano, o comportamento das pessoas, então a quarentena foi o momento de observar o dia a dia da rua onde moro, as plantas da minha casa, os objetos do meu quarto. Desenhei o que o campo visual da minha varanda permite enxergar, passei longas tardes vendo o movimento do sol no prédio da frente, o vazio da rua e dos espaços antes cheios de gente. Em alguns dias também tentei passar a indignação diante das declarações estapafúrdias do presidente...

MIXTAPE: Sobre a situação da cultura no Brasil de hoje... A arte resiste?

LUANA: Resiste e se engrandece! As charges diárias, os coletivos independentes, o humor, a arte traduz o que a gente tem sentido nesses dias, alivia um pouco do peso. A quarentena ajudou a ampliar o público de muitos artistas, as lives, por exemplo, são incríveis pra divulgação, adoro ver os artistas desenhando, falando dos seus trabalhos, mostrando o processo criativo.


"Gosto de observar o cotidiano, o comportamento das pessoas, então a quarentena foi o momento de observar o dia a dia da rua onde moro, as plantas da minha casa, os objetos do meu quarto"

MIXTAPE: Há algum artista em que você se inspira ou que ache que o mundo devia conhecer e não dá o devido valor?

LUANA: Eu amo os impressionistas, é o movimento artístico com o qual eu mais me identifico, mas um dia me falaram que a temática dos meus desenhos tem um pouco da solidão de Edward Hopper, que é do Realismo americano, e eu fiquei me achando. Para indicar pra vocês, escolhi seis artistas, três mulheres e três homens que me inspiram e têm contas muito legais no Instagram: Cristina Correa (@dibujosdecristina), Eva Uviedo (@evauviedo), Nara Rosetto (@nararosetto), Conrado Almada (@conradoalmada), Shiko (@chicoshiko) e Camilo Solano (@camilo.solano).

MIXTAPE: Outra vez acompanhamos uma live do também desenhista Guilherme Bandeira em que ele afirmou que a “arte é um respiro”, principalmente para os dias de hoje. A arte já te salvou alguma vez na vida?

LUANA: A arte me salva sempre! Saio do meu mundo por alguns instantes, perco alguns medos, me fortaleço. E não falo só de quando estou desenhando, é quando ouço música, vejo fotografias, vejo a produção dos amigos.

MIXTAPE: A galera do Festival Carambola - evento independente alagoano que já entrou no calendário de festivais do Brasil e que neste ano, infelizmente, foi adiado por conta da pandemia - lançou um trabalho incrível para ajudar os trabalhadores do setor cultural e você é uma das artistas envolvidas. O que você achou da iniciativa?

LUANA: O adiamento dos shows do Carambola foi um baque, nos fez cair na real sobre o impacto da pandemia na sociedade, de repente ficamos sem lazer e muitos ficaram sem trabalho e sem perspectiva de quando voltarão a ter. É uma cadeia muito grande precisando de ajuda e as organizadoras do festival (Fernanda Guimarães, Lili Buarque e Didi Magalhães) não desanimaram, mobilizaram muitos artistas pra montar a Lojinha Carambola e culminou com a participação no Devassa Tropical, mostrando a relevância dos artistas independentes e deixando a gente com vontade de aglomerar de novo quando o festival puder ser remarcado.

Participar me deixou muito feliz. Os desenhos que fiz são muito diferentes do que faço normalmente, a venda dos prints continua rolando e consigo contribuir de alguma forma. A lojinha segue vendendo muita coisa bacana, espero conseguir produzir mais uns desenhos pra doar.

MIXTAPE: Acompanhamos o projeto no instagram “Um Desenho Por Dia” em 2014. Deve ter te dado um trabalho enorme e no final ficou incrível, mas qual foi a maior dificuldade? Conta pra gente.

LUANA: Aquele projeto foi insano. Fiz todos os dias mesmo: de 1º de janeiro até 31 de dezembro de 2014, não deixei desenho pronto pro dia seguinte nem postei atrasado. Refletiu o meu dia a dia mesmo: dias em que me empolgava e fazia um desenho muito bom, aquele dia ruim, a falta de ideias, quando adoeci, quando cheguei morta de cansada e sem vontade de fazer nem um traço, a oscilação de humor e as crises de ansiedade... Está tudo ali.

Lembro muito do dia do 2º turno da eleição, os nordestinos foram muito atacados, não consegui desenhar, não me vinha à cabeça nenhuma imagem pra representar a tristeza daquele dia, escrevi sobre o ódio que tomou conta das redes sociais. Mal podia imaginar que estaríamos numa situação muito pior agora.


Releitura de Luana Bandeira para "Terraço do Café à Noite", de Van Gogh (1888)

MIXTAPE: Pelos posts e alguns desenhos, observamos que você é uma das maiores fãs de Pearl Jam (haha). Ao final de cada bate papo, a gente pede que deixe uma mixtape indicando cinco músicas que fazem ou fizeram parte da sua vida. Quais são as suas?

LUANA: Pearl Jam foi identificação imediata desde a primeira música. Há 28 anos eles são meu refúgio, minha válvula de escape, é pra onde corro quando estou triste, com raiva, com energia pra queimar. Admiro também as causas que cada um abraçou individualmente e como a banda se une para apoiá-las. Mas eu não vivo só de Pearl Jam né? A mixtape de hoje teria:

A Menina Dança – Novos Baianos

People Have The Power – Patti Smith

Harvest Moon – Neil Young

Baba O’Riley – The Who

Save You – Pearl Jam (essa é fixa na playlist da minha vida)

Luana Bandeira é uma desenhista e ilustradora que acredita no poder transformador da ARTE.




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