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Entrevista: a fortuna cultural de Andrey Vieira

Cantor e compositor alagoano bateu um papo com o Mixtape 90 sobre o

primeiro álbum da carreira, referências culturais e o mercado musical


Andrey Vieira | Foto: divulgação

Lápis e papel para escrever, Van Gogh, barroco, uma canção de amor, Djavan... É nesse venturoso baú cultural que Andrey Vieira, cantor e compositor alagoano, traz toda sorte artística no primeiro álbum da carreira, intitulado "Fortuna".

As referências acima pertencem ao single "Djavan", uma declaração de amor em um pop dançante que leva o nome de ninguém menos que o conterrâneo do artista. Apaixonado pela parte lírica em suas produções musicais, Andrey nos entrega os versos "nem que eu chamasse a melhor banda do mundo e convidasse o Djavan pra cantar, essa canção não chegaria nem perto do que sinto, do que quero mostrar" em declaração encomendada pelo amor do eu lírico.

Natural de Maceió (AL), o artista de 26 anos se descobriu no mundo da música na pré-adolescência, quando formou bandas com amigos dos tempos de colégio. Porém, como ele mesmo costuma dizer, a música estava ali o tempo todo. "Tenho diversas fotos antigas comigo segurando brinquedos que envolviam música. Eu vivia com guitarras e teclados de brinquedo e nas aulas de música havia um monte de criancinha sentada ao redor sem prestar atenção e só eu fissurado olhando o violão", relembra.

Foi apenas em 2017, com o lançamento do single "Por Todo tempo Que Vi", que Andrey se abriu ao universo de descobertas e redescobertas através da escrita e da musicalidade. De lá pra cá vieram alguns singles e um EP, mas foi durante a pandemia que o músico usou a arte como válvula de escape e criou material suficiente para dois álbuns a ser lapidado para a construção do que se tornou "Fortuna", o primeiro álbum da carreira do garoto da guitarrinha de brinquedo e que ouvia o acústico MTV do Cidade Negra em loop no carro do pai.

Em oito faixas, o cantor diz que "Fortuna" veio com o objetivo de ser mais pop, o que podemos sentir nas faixas "Djavan", "Seu", "Bahia" e "Zona de Conforto". O rock, a primeira influência do artista, aparece em "Saga Cidade" e "Carnaval". Já a liricidade da MPB está viva em "Versos Sobre o Que Passou" e "Invísivel". De influências do já citado Djavan, Nando Reis e Tim Maia ao rock de Red Hot Chilli Peppers e Guns N' Roses, é no "Fortuna" que ele agrega tudo que é mais relevante para a jornada e diz que a riqueza do disco foi justamente o desabrochar musical.

Foi em um papo massa via Zoom que Andrey Vieira abriu sua caixa repleta de trocas culturais e pura simpatia, falou sobre carreira, mercado musical, resistência e só mostrou mais uma vez que Alagoas é e sempre foi berço de artistas fantásticos e necessários. Bora conferir?


MIXTAPE: Andrey, vamos puxar lá do início? Como a música surgiu na tua vida?


ANDREY: A maioria das pessoas ou a família já atuava no meio (o que não foi o meu caso, ninguém da minha família toca nada) ou então surgiu na fase de banda de colégio que foi o meu caso. Aos 13 ou 14 anos, quando mudei de colégio e me enturmei com a galera que tocava violão e guitarra, todo mundo começando ainda, foi ali que me motivou a conhecer outros estilos, principalmente o rock nessa fase da pré-adolescência e me apaixonei pela música. A verdade é que a música sempre esteve presente na minha vida, no meu inconsciente e eu não percebia, só precisava do gatilho dos amigos tocando e experimentando essa coletividade artística. Fiz aulas de violão, guitarra, aprendi a tocar com banda, toquei em bares, experimentei vários estilos desde forró, swingueira, reggae, rock e desde 2008/2009 eu não parei mais. Em 2017 lancei meu primeiro single autoral.




MIXTAPE: “Fortuna” chega como o primeiro álbum da carreira e logo de cara temos a faixa “Djavan”. Além dele, quais são suas maiores referências?


ANDREY: Eu costumo ouvir de tudo: reggae, rock, pagode, forró, só não costumo ouvir muito eletrônica, de resto eu escuto tudo. Acredito que há uma grande diferença entre o que você gosta de ouvir e o que de fato te influencia quando vai fazer música. Tudo acaba sendo uma amálgama de tudo que escuta, mas tem coisa que te influencia e tem coisa que você gosta de ouvir. O que me influencia realmente é Djavan e na parte lírica outros artistas que me inspiram são Nando Reis, Lulu Santos, Tim Maia, esse pessoal da MPB. Se for expandir para a parte mais musical, eu gosto muito do rock mais antigo Guns N' Roses, Red Hot Chilli Peppers até coisa mais atual. Também gosto muito desse novo pop que vem mais instrumental como a Billie Eilish. Totalmente diferente, né? De Nando Reis e Djavan para a Billie Eilish, mas é isso.



MIXTAPE: E o porquê do título “Fortuna”?


ANDREY: Bem mais pelo significado da palavra. Geralmente as pessoas pensam logo na ideia do dinheiro quando relaciona fortuna, mas o significado literal da palavra não é exatamente esse, é mais sobre o valor de alguma coisa agregado ao que você considera como relevante. O disco, totalmente produzido por mim na pandemia, foi um passo mais adiante. Ao contrário do “Anamnese”, meu primeiro EP, que foi mais uma jam para um amigo, que convidei um amigo guitarrista, um amigo baixista e todos ajudaram a criar os arranjos para as músicas, no “Fortuna” não. Foi tudo da minha cabeça. A fortuna, a riqueza do disco para mim foi justamente esse desabrochar musical, a minha riqueza musicalmente falando, de poder compor bateria, baixo, letra, compor tudo. Por isso, a palavra “Fortuna” encaixou bem. A capa foi idealizada pela Catarina Magalhães e a Caroline em uma sessão de fotos que usamos LED azul, vermelho e branco. Eu quis fugir do óbvio que tivesse algo relacionado ao título.


Capa do "Fortuna", 1º álbum de Andrey Vieira

MIXTAPE: Vejo que além do “Fortuna” e dos EPs e singles já lançados até agora, teu trabalho é muito autoral. Fala um pouco da tua relação com a composição.


ANDREY: Para mim a composição é algo muito satisfatório. Desde os tempos de colégio, quando comecei a dar os primeiros passos na parte musical, veio junto o interesse por compor. Sempre tive essa veia autoral, pois sempre fui muito de escrever, eu tinha um blog. Quando percebi que podia transformar o meu interesse pela escrita em algo diferente, que seria a música, para mim foi um deleite. À medida que eu progredia tecnicamente na parte de destreza musical, progredia na parte lírica, exercitava a ideia de compor coisas fora da caixa, para não usar rimas muito óbvias e criar uma ideia de que a liricidade da música também é algo relevante para mim. Eu acredito muito no poder da música, principalmente pela letra. Quando alguém se identifica com a letra de uma música, aquilo se torna algo pessoal, como se a gravação fosse direcionada para a pessoa. Sou apaixonado pela parte lírica.


MIXTAPE: O primeiro EP “Anamnese” foi lançado em 2020, aquele ano confuso e muito complicado para todo mundo, principalmente para os artistas. Como foi esse período para você?


ANDREY: O “Anamnese” foi produzido em 2019, mas saiu em janeiro de 2020. Dois meses depois, explodiu a pandemia. Por ser meu primeiro trabalho como artista solo, não tive a oportunidade de fazer lançamento, de tocar em shows, fiquei estagnado, fiz tudo via internet, tentando criar engajamento pelas mídias sociais. Eu havia sido selecionado para participar do “Teatro Maior Barato” e tinha um show marcado para março em um espetáculo que seria o lançamento do disco, exatamente o mês que começou a pandemia. A expectativa estava massa, o disco estava tendo repercussão, a faixa “percalço” estava com mais de 10 mil reproduções no Spotify, ainda tive um minidoc gravado no fim do ano no Teatro Deodoro, mas ainda não tive o contato com o público.


MIXTAPE: Como foi o processo de produção e gravação do “Fortuna”?


ANDREY: O processo foi muito satisfatório, eu estava em casa esse tempo todo da pandemia, fiz a quarentena séria, pois meu pai é zona de risco. Também fiquei muito tempo sem ver minha namorada, então acabou sendo uma válvula de escape muito boa. Quando percebi já tinha material suficiente para dois discos, pude criar material bom para escolher e criar uma obra orgânica, com começo, meio e fim.

O “Fortuna” foi gravado no Maná Records, um estúdio de Maceió (AL), com a ajuda dos meus amigos produtores Thomas e Thiago. Todas as composições do disco são minhas, porém “Bahia” compus com um amigo chamado Lucas Costa e a faixa “Invisível” foi escrita até a metade e eu vi que estava precisando de uma segunda parte. Por coincidência, passeando pelo Instagram, eu me deparei com uma menina chamada Debora Barros declamando uma poesia que se encaixava perfeitamente com a ideia da música, aquilo me inspirou, fiz uma rima e surgiu a segunda parte da música. Eu enviei uma mensagem para ela com áudio para pedir autorização e deu super certo.


MIXTAPE: Ainda em 2020 você lançou o single “ignorância” com letra política e de conscientização. Você acha que com todo este desgoverno, como o artista pode e deve resistir nos dias de hoje?


ANDREY: O single “Ignorância” é a música que eu mais tenho orgulho de ter escrito por ser uma conversa muito sincera e politizada sobre o mercado musical que a gente vive hoje. Eu me considero um grão de areia perto desse gigantesco mercado musical que tem mundo afora e ainda dou muito valor à ideia da obra, do conceito do artista, da arte por natureza. Eu fico muito triste de ver músicas sendo lançadas diariamente que acabam não agregando em nada, apesar de entender que faz parte da cultura, que a cultura muda e que tem hora que o ser humano só quer rebolar a bunda, faz parte da humanidade.

Nesse momento de pandemia com todo dia pipocando alguma atrocidade do Bolsonaro, eu fiquei muito triste de ver poucos artistas se posicionando, ficando inerte com medo de perder público. Também vi que as pessoas começaram a cobrar posicionamento das outras e, embora ache que não seja um caminho muito ok, creio que acabou fazendo sentido na época em que estamos vivendo. A letra de “Ignorância” fala sobre o mercado musical, sobre as músicas que surgem para saciar desejos humanos e que são temporários, acabam sendo descartáveis. Eu não quero ser o chato e entendo totalmente que a arte também é feita para divertir, mas acho que acabou ficando algo muito desbalanceado. Com referência ao Marcelo D2 na música “Qual É” que diz “celebridade é artista que não faz parte”, peguei a frase e utilizei outra frase no refrão “se ignorância é uma benção, pensar virou profanar”. Acho que conseguir passar bem a mensagem.


MIXTAPE: Voltando ao “Fortuna”, vamos ter clipe em breve? Algum show?


ANDREY: Gravamos um clipe da faixa de “Djavan” que vai sair em breve. O vídeo vai ser ambientado em uma casa com paletas mais vivas para combinar com a música, uma vibe dançante e introspectiva como a faixa pede. Também temos o primeiro show da era “Fortuna” já marcado para o dia 06 de novembro às 17h lá no Teatro Jofre Soares, do Sesc Centro em Maceió (AL). A entrada é gratuita, porém como é lugar marcado e capacidade limitada é preciso garantir o ingresso pelo site: https://doity.com.br/ingressossesccentro. Corre lá :)


MIXTAPE: Chegou a hora em que a gente pede ao convidado que deixe uma mixtape, um top 5 de álbuns que te marcaram. Qual a tua?


ANDREY: Vou listar aqui os álbuns que me fizeram despertar para a música, não vai ser necessariamente um TOP 5 dos meus favoritos da vida, mas foram os discos que deram aquela engatilhada para minha carreira:


- Acústico MTV: Cidade Negra (Cidade Negra)

- Lilás (Djavan)

- Californication (Red Hot Chilli Peppers)

- MTV Ao Vivo: Skank em Ouro Preto (Skank)

- Transpiração Continua Prolongada (Charlie Brown Jr)


OUÇA O ÁLBUM "FORTUNA":


ANDREY VIEIRA

Instagram: @andreyvieira

Youtube: Andrey Vieira

Spotify: Andrey Vieira


SHOWS:

TEATRO JOFRE SOARES (SESC CENTRO) - Maceió (AL)

06 de novembro (sábado)

17h

Entrada Gratuita


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