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ENTREVISTA: Poeta Sem Ânimo

"Do Avesso ao Verso" é o primeiro livro de poesia do alagoano João Vitor Ferreira que, no universo do Poeta Sem Ânimo, traz versos sobre a luta contra ansiedade e depressão


Poeta Sem Ânimo | Foto: arquivo pessoal

"Vivo no meu universo particular que é melhor do que essa sociedade", "Sou assassino em série: destruo cada pensamento aterrorizante que me cerca". É com trechos assim que João Vitor Ferreira exorciza as dores da vida nas poesias presentes em "Do Avesso ao Verso", obra autobiográfica em formato de e-book lançada no final de 2020.

Com apenas 22 anos, os versos do estudante de jornalismo ganharam a luz do mundo desde cedo, quando aos 9 escreveu o primeiro poema, intitulado "Avião de Papel", e não parou mais: a escrita é onde o poeta sem ânimo encontra o espírito pensante que preenche a alma.

"Eu já tinha algo a dizer, mesmo com tão pouca idade", relembra o autor sobre os primeiros trabalhos e pode-se dizer que é assim mesmo que acontece. Quando o talento é nato, ninguém segura ninguém e como os ombros de Drummond que suportam o mundo, o poeta sem ânimo "escreve para não morrer com as malditas palavras na garganta".

Dividido em 4 partes com 50 poesias ao todo, o livro escancara experiências dolorosas na vida de João que, apesar da pouca idade, já enfrentou decepções amorosas, problemas com a autoestima e uma tentativa de suicídio. "Do Avesso ao Verso" não é para romantizar as questões de saúde mental e o aviso de gatilho seguido de "VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO" reforça que todo mundo que sofre com transtorno de ansiedade e/ou depressão deve procurar ajuda. Precisamos falar sobre o assunto e um dos meios encontrados pode ser a poesia.

Ao visualizar alguns stories de amigos no Instagram indicando o livro e quando vi João na TV enfrentando a timidez (como ele mesmo me confidenciou depois) para divulgar a obra, fiquei curioso e entrei em contato por e-mail com o Poeta Sem Ânimo. Logo, passamos para a conversa pelo Whatsapp. O resultado foi um bate papo massa sobre poesia, arte e o peso da vida entre figurinhas de Lana Del Rey (musa do poeta), indicações de livros e algumas perguntas. Por aqui, convido vocês a conhecer um pouco do poeta que, assim como Drummond, exorciza a dor e o sentimento pesado do mundo em palavras.


MIXTAPE: Como surgiu a arte da escrita na tua vida?

JOÃO: Desde pequeno eu sempre fui muito curioso. Por muito tempo os gibis, HQs, cadernos e livros foram os meus melhores amigos. Depois que comecei a ler alguns poemas, especialmente de escritores brasileiros, me apaixonei pela poesia e descobri que poderia fazer o mesmo. Então comecei a escrever meus próprios poemas no ensino fundamental, por volta dos 8 a 9 anos.


Capa do 1º livro de poesias de João Vitor Ferreira

MIXTAPE: "Do Avesso ao Verso" traz temas como ansiedade, depressão e outros assuntos relacionados à saúde mental. A escrita já te salvou alguma vez na vida?

JOÃO: Muitas vezes! É como eu digo: escrevo para não morrer com as malditas palavras presas em minha garganta. A escrita se tornou uma forma de desabafo, então eu sempre estou escrevendo, seja após uma frustração, quando volto para casa decepcionado, ou quando me pego triste pelos cantos. Ela é minha válvula de escape, um refúgio e um lar para os desajustados. Quando estou deprimido apenas escrevo e finjo que estou longe dessa terra do desassossego, ainda que a dor esfregue a verdade em minha cara. E ela esfrega - todo santo dia.

MIXTAPE: Como foi o processo de criação e produção do seu livro em plena pandemia?


JOÃO: Na verdade "Do Avesso Ao Verso" estava em um arquivo que eu gostaria de ter compartilhado há um bom tempo. Mas acredito que foi publicado em um momento certo. Um momento em que muita gente, assim como eu, teve que lutar por sobrevivência, independentemente de ter algum transtorno psicológico ou não. A pandemia me fez refletir muita coisa: o medo do futuro, a incerteza, o que eu queria dizer em uma época tão devastadora. Mas ela também me fez olhar para dentro de si mesmo e buscar uma luz no fim do túnel. Então eu decidi que depois de um ano tão caótico deveria compartilhar meus sentimos que estavam há tanto tempo aprisionados. Primeiro porque sobrevivi e estive em contato com as minhas cicatrizes e camadas mais profundas. Eu não tenho medo disso; segundo porque passo muito tempo fazendo metáforas entre a vida e a morte. Nós não sabemos o dia de amanhã, então mexi os pauzinhos e resolvi despir minha alma e compartilhar o e-book com os outros.


João escreve poemas desde os 9 anos | Arquivo Pessoal

MIXTAPE: Quais as suas maiores referências?


JOÃO: Poxa, são muitas referências, desde professores, artistas e poetas anônimos que passaram por minha vida. Aos meus amigos que também escrevem, desejo que tenham forças e não desistam de sua arte, apesar da desvalorização em nosso país ser gritante. Também gostaria de agradecer a minha professora de Língua Portuguesa, Edileide Nunes, que despertou em mim o amor pelas letras e por ter me incentivado a seguir os meus sonhos. Com relação aos grandes nomes da poesia, minhas maiores inspirações são, sem dúvidas, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Álvares de Azevedo, Charles Bukowski, Sylvia Plath, entre outros.

MIXTAPE: Ao final de cada entrevista sempre pedimos que o convidado deixe uma Mixtape. Qual a tua indicação para nossas leitoras e leitores?


JOÃO:


1- Brejo das Almas - Carlos Drummond de Andrade

2- A Hora da Estrela - Clarice Lispector

3- A Redoma de Vidro - Sylvia Plath

4- Cem Anos de Solidão - Gabriel García Marquez

5- Violet Bent Backwards over the Grass - Lana Del Rey

Bônus: Escupir o Vento - Thiago Fillipe Monteiro (um livro que li de um professor que conheci por acaso na livraria leitura. Muito bom)


"Do Avesso ao Verso", do Poeta Sem Ânimo, está disponível em formato e-book.

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